quarta-feira, agosto 29, 2007

Balada do Amor através das idades


























Eu te gosto, você me gosta
desde tempos imemoriais.
Eu era grego, você troiana,
troiana, mas não Helena.
Saí do cavalo de pau
para matar seu irmão.
Matei, brigamos, morremos.
Virei soldado romano,
perseguidor de cristãos.
Na porta da catacumba
encontrei-te novamente.
Mas quando vi você nua caída na areia do circo
e o leão que vinha vindo,
dei um pulo desesperado
e o leão comeu nós dois.


Depois fui pirata mouro,
flagelo da Tripolitânia.
Toquei fogo na fragata onde você se escondia
da fúria do meu bergantim.
Mas quando ia te pegar
e te fazer minha escrava,
você fez o sinal da cruz e rasgou o peito a punhal...
Me suicidei também.


Depois (tempos mais amenos)
fui cortesão de Versailles, espirituoso e devasso.
Você cismou de ser freira...
Pulei muro de convento
mas complicações políticas
nos levaram à guilhotina.

Hoje sou moço moderno,
remo, pulo, danço, boxo,
tenho dinheiro no banco.
Você é uma loura notável,
boxa, dança, pula, rema.
Seu pai é que não faz gosto.
Mas depois de mil peripécias,
eu, herói da Paramount,
te abraço, beijo e casamos.

(Carlos Drummond Andrade)
Engraçado como este poema me faz refletir sobre a possibilidade de que talvez seja verdade a existência de almas gêmeas... Muito embora, nem sempre permaneçam juntas em todas as encarnações, porque vários são os empecílhos que o destino trama com elas, pobres almas! Lúdico destino...
Sabe de uma coisa?! Pressinto que, nessa minha atual existência, com a minha, já desencontrei...

terça-feira, agosto 07, 2007

O CELEIRO DA PERSEVERANÇA


Querido intruso amigo, venho hoje escrever breves palavras em homenagem ao
DIA DOS PAIS.
Para tanto, irei contar uma história que, há poucos dias, ouvi de uma pessoa muito especial e fez com que eu refletisse muito a respeito de um tópico-chave na vida das pessoas: A PERSEVERANÇA.
Segundo o dicionário, perseverança deriva do verbo intransitivo perseverar, cuja origem vem do latim perseverare e significa persistir, continuar, conservar-se firme e constante. E olha que para perserverar não precisamos nem do objeto...
Pois bem, vamos à estória... Era uma vez...
...Um homem muito rico tinha um filho (único) que não interessava-se por nada na vida a não ser festas, badalações, mulheres, bebidas e bens materiais.
O pai em constantes conversas com o filho sempre aconselhava-o a dedicar-se aos estudos de modo que tivesse uma profissão no futuro. Dizia assim: - Filho, meu filho... Você precisa tomar um rumo nessa sua vida. Deveria ir em busca de uma profissão, de uma carreira. Filho, eu não serei eterno. Um dia morrerei. E você? Como vai se manter?
O filho por sua vez, dando de ombros retrucava: - Ah, meu velho! Não esquenta... Tenho meus amigos, temos dinheiro. Pra que eu vou perder tempo estudando?
E o pai preocupado insistia: - Filho, você tem amigos agora que está podendo oferecer a eles tudo o que desejam; mas o dia que não tiver mais nenhum bem material, nenhuma riqueza, verás que todos desaparecerão e ficarás solitário.
O ingênuo rapaz continuava a ignorar os conselhos do pai.
Anos se passaram... e tudo continuava como antes a não ser pela terrível doença a que o homem fora acometido: um câncer inoperável.
E pela última vez, o homem doente chama seu filho e diz: - Filho, esta doença está me consumindo, estou prestes a encerrar minha missão neste plano. Sinto-me fraco. Mas antes preciso lhe dizer algumas últimas palavras. Leve-me ao celeiro.
O rapaz, prontamente atendeu ao pedido de seu velho pai. Colocou-o numa cadeira de rodas e pra lá o levou. Chegando ao celeiro, o enfermo olhou seriamente para o semblante do boêmio e disse: - Meu rapaz, de nada adianta mais tentar convencer-te da idéia de que na vida tudo é passageiro e que você deveria empenhar-se em busca de uma profissão e do seu próprio sustento. Porque mais cedo ou mais tarde nosso tesouro irá acabar. Por isso, preste muita atenção ao que irei lhe dizer. E segurando firmemente a mão do filho continuou: - Está vendo aquela corda amarrada no celeiro? O rapaz fez um sinal positivo com a cabeça, mas não estava entendendo muito bem onde o velho queria chegar. - Muito bem, e prosseguiu, quando descobri que estava doente, construi essa forca aqui no celeiro pra você! Assim, num futuro, quem sabe não muito distante, quando você estiver sentindo-se sozinho, sem riquezas, sem amigos e sem rumo, poderá vir aqui no celeiro para enforcar-se.
O menino, assustado, achou tudo aquilo um real despropósito, mas calou-se em respeito à condição em que seu pai encontrava-se. Apenas sussurrou: - Não preocupe-se comigo papai. Estarei bem.
Poucos dias depois, o homem faleceu. E alguns anos se passaram. Profeticamente, tudo aconteceu como o pai havia dito. O filho gastara toda a riqueza da família em festas, bebidas, mulheres e presentes aos colegas. De repente, viu-se sozinho, sem dinheiro, sem noitadas e sem os "verdadeiros" amigos. Perdido, sem rumo, pensava em como arrependera-se por nunca ter dado ouvidos ao seu sábio pai. Lembrou do celeiro e de tudo o que o pai havia lhe dito naquela ocasião. Logo, não haveria outra saída a não ser usar a forca.
Foi até ela, subiu em um banco de madeira, colocou a corda no pescoço, empurrou o banquinho e...
... A forca era oca. E de súbito estava o rapaz vivo no chão. Ao seu lado um baú cheio de jóias, pedras preciosas e moedas de ouro ...

É querido intruso amigo, só o verdadeiro e incondicional amor dos pais, perseverare mesmo quando aparenta ter desistido.
Honremos nossos pais não só neste dia tão materialista que o mundo capitalista criou, mas sim, durante toda a nossa existência. Para que talvez, não seja preciso usarmos da forca do celeiro da vida. Pois nunca saberemos se haverá o baú do tesouro da segunda chance sobre nossas cabeças... Honrai nossos pais sempre...
Feliz Dia dos Pais!!