segunda-feira, janeiro 22, 2007

Soneto (Dezembro de 1937)


Aceitarás o amor como eu o encaro?...

... Azul bem leve, um nimbo, suavemente

Guarda-te a imagem, como um anteparo

Contra estes móveis de banal presente.


Tudo o que há de milhor e de mais raro

Vive em teu corpo nu de adolescente,

A perna assim jogada e o braço, o claro

Olhar preso no meu, perdidamente.


Não exijas mais nada. Não desejo

Também mais nada, só te olhar, enquanto

A realidade é simples, e isto apenas.


Que grandeza... A evasão total do pejo

Que nasce das imperfeições. O encanto

Que nasce das adorações serenas.


Mário de Andrade

Nenhum comentário: